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segunda-feira, maio 31, 2004

Frase do dia: “Nada, nunca se é nada, apenas se vai sendo ”.





“É ridiculamente ridículo que tu não entendas Nimrod e o seu trono de papel alto edifício tombado junto ao lago os escombros dos cisnes sombras perseguem a criança no seu sono brinquedos almofadas querubins e papoilas de volta às voltas e ao eterno retorno outra vez a criança nos braços oscilando o peso do seu passo de gigante agiganta-se em mim no silêncio que sente o caminhar dos teus passos eu sou o que observa a espera a observação que as coisas mexam enquanto tu caminhas no teu caminhar sonâmbulo de sono que acorda acordando antes de se ir deitar outra vez”.


RMM

sábado, maio 29, 2004

Frase do dia: “Os olhos nunca podem olhar para trás, mas muitas vezes não vêem o que lhes está à frente”.







Definição de conceitos


Aculturação


Não há nenhum consenso sobre a definição deste conceito. Há geralmente duas visões que se complementam, duas áreas de estudo se quisermos ser mais específicos.
A Primeira vem da Psicologia Social-nesta área do conhecimento a Aculturação é entendida como Inculturação-inerente a todo o percurso de socialização estando associada a todo o processo de construção das diversas individualidades pessoais.
Para a Antropologia Cultural, pelo seu turno, Aculturação é entendida como o resultado de fenómenos originados pelo contacto de indivíduos de culturas distintas.
É mais no sentido da Antropologia Cultural que o conceito de Aculturação é aqui referenciado-a forma como indivíduos de grupos minoritários se relacionam dentro de uma sociedade que os diferencia. Ou quando se diferenciam da mesma, derivado de características consideradas anómalas.
No entanto, sempre que falamos de Aculturação estamos sempre a falar de uma interacção dialéctica em que dois pólos contribuem para que essa osmose se realize ou que seja possível.
Como é sabido, é sempre a sociedade dominante (naquilo que constitui a chamada maioria abstracta) que determina o quando, o onde e o como é que essa Aculturação se realizará.
Neste caso em relação à sociedade dominante, comunidades como a cigana ou a africana, a exemplo de muitos outras comunidades imigrantes, acabam por ter mais características de uma mera micro sociedade receptora do que um grupo coeso que possa fazer valer as suas identidades culturais.
É por isso que, por exemplo, grandes traços da cultura cigana se foram perdendo. Porque no seio de uma sociedade em que os padrões de normalização estão fortemente definidos, eles não deixam de ser um grupo excluído e com características marginais. Dessa maneira quaisquer que sejam as manifestações desta comunidade, para os olhos da mesma sociedade dominante, elas serão quase sempre consideradas nocivas, até mesmo com fortes características de serem proscritas.
Quando se fala em Aculturação, qualquer que seja a situação que estejamos a avaliar, está-se sempre a falar de mudança e de evolução. Até mesmo o próprio conceito não traz nada de estático, é continuamente alvo de novas interpretações e abordagens.
É a própria evolução da sociedade que impulsiona os próprios conceitos a mudarem, a surgirem novos, a serem abandonados. Tal como a língua ou a linguagem, redimensiona-se, evolui, muitas vezes transforma-se noutra coisa.
Há dois modelos axiomáticos que julgo ser sempre importante referir quando estamos a falar de aculturação e que acho bastante pertinentes.
Trata-se da Teoria da Identidade Social de Tajfel e o Modelo de Berry. Sociólogos como José Machado Pais utilizam com muita frequência a junção destes dois modelos, visto eles conseguirem encarar o fenómeno da Aculturação não como algo estático, mas como um processo multilinear de construção de identidades pessoais minoritárias no seio de identidades colectivas-os chamados “grupos” das ditas sociedades dominantes.
Tanto para um como para o outro a Aculturação deixa de ser encarada apenas nos seus aspectos macro (relações entre países, por exemplo) para, também, poder ser transposta para o campo de análise das relações entre os indivíduos, nomeadamente na construção das suas identidades pessoais e sociais. Trata-se, no fundo e tendo sempre presente esta noção, de um processo contínuo e dialéctico de interacção social e humana.
Sendo assim, com base no trabalho, ou na noção destes autores, encontramos a Aculturação não como algo estático, mas como algo que reveste diversos graus ou dimensões.
Dentro dessa mesma Aculturação estamos diante das seguintes dimensões:

1- Integração
2- Assimilação
3- Separação
4- Marginalização

Estas quatro dimensões, que o conceito Aculturação alberga, estão presentes em Berry através de duas perguntas particulares. Perguntas estas que o indivíduo considera pertinentes porque vão de encontro à sua relação com a sociedade dominante, ou a sociedade dos que dominam.

- Considero importante para mim a manutenção da minha identidade e características culturais?
- Considero importante para mim a preservação da relação com outros grupos?


Com base nestas respostas, Berry estabelece uma relação associativa com cada uma das dimensões que o conceito Aculturação alberga: Integração, Assimilação, Separação e Marginalização.
Quando positiva a resposta às duas estamos diante de integração- manutenção da integridade cultural do grupo de pertença assim como uma relação positiva para com a sociedade de acolhimento.
Quando negativa para a primeira e positiva para a segunda estamos diante de assimilação-perda total da identidade cultural de origem e de uma opção pela interiorização das normas da sociedade de acolhimento (ou da sociedade dominante).
Quando positiva para a primeira e negativa para a segunda estamos diante de separação-mantém e preserva a identidade cultural do grupo de pertença mas opta por uma estratégia de rejeição das normas e dos valores da sociedade de acolhimento.
Quando negativa para as duas estamos diante de marginalização-traduz-se na perda total da relação da cultura de génese e por uma não participação na sociedade de acolhimento. Caracteriza-se por sentimentos individuais de ansiedade, confusão, alienação, terminando o processo numa situação de stress aculturativo.
Embora este modelo não possa ser aplicado na íntegra, nem ele constitui em si nenhum método exacto, ele não deixa de conseguir tratar a questão do relacionamento entre o Eu e o Outro com bastante realismo de análise. A pergunta é sempre feita em relação ao indivíduo, neste caso a um indivíduo de um grupo minoritário, e não tanto à sociedade como um todo.
Transpondo-o para qualquer que seja a área em causa: cultura, religião ou linguagem ele não deixa de encontrar muitos fios condutores.


Ricardo Mendonça Marques (trabalhos de mestrado, UNI, 2004)


Como esta cena ainda foi longa de ler o poema vai ser curto


CARTA FRAGMENTÁRIA A UM AMOR PERDIDO





Cidade paisagens ocupadas pela tristeza:
Já não as posso ver com os teus olhos

...
You were breasts thighs buttocks no name
Serás ossos pó nenhuma lembrança



Heiner Müller


quarta-feira, maio 26, 2004

Frase do dia: “Anda, mostra-me o sonho... faz com que eu não queira acordar”.









“Renasce outra vez e é a espada de fogo e tudo é muito rápido mas as princesas que não são salvas beijam os sapos do amanhã é estranho é diferente é inquieto é soturno é solitário em sol maior da guitarra que toca a melodia harmónica do silêncio dos guetos sociais em que os nossos olhos não reparam também eu procuro dar o salto indo de encontro aos conceitos delirando com a maximização de recursos suspirando com o incremento do investimento no capital humano em busca da polivalência especializando-me em coisa alguma não passa de uma treta é outra vez o anjo é outra vez a princesa é outra vez a espada de fogo é outra vez a poesia nas esplanadas de Outono é outra vez o sonho é outra vez o acordar é outra vez o dormir é outra vez os teus braços que naufragam é outra vez o sonho em ti e em mim”.


RMM







“Os anjos não se procuram. Eles aparecem”.

Vitor Ferreira

segunda-feira, maio 24, 2004

Frase do dia: “Pode ser que sim, mas a verdade é que no tempo (e eu sei que esse tempo existiu) em que as mulheres (algumas) preferiam os paranóicos... aí sim seria mais fácil, mas agora é preciso fingir que somos todos sãos e que as máscaras e as lágrimas, ou o sangue na boca, realmente não existem e, além do mais, é porque tudo não passa de um percurso abecedariamente desconexo”.



Continuando. Tempo suspenso que galga em direcção ao que se espera quando se finge que não se espera mais nada... quando lá mesmo no último confim de uma esperança alojada no cérebro como uma bala, se sabe que ainda se espera alguma coisa.



Tempo de uns poemas... (já que a pachorra para escrever é menos que zero elevado a zero e multiplicado por outros mil zeros)


A MORTE DOS AMANTES




Teremos camas com os mais leves cheiros
E profundos divans, quais mausoléus,
Além de estranhas flores nas prateleiras,
Pra nós abertas em mais belos céus.

À porfia gastando os ardores últimos,
Os nossos corações, quais labaredas,
Reflectirão as suas chamas duplas
Nas nossas almas, dois espelhos gémeos.

Numa noite de rosa e de azul místico
Um só relâmpago iremos trocar,
Como o soluço de um adeus sem fim;

E um Anjo, mais tarde, abrindo as portas,
Alegre e fiel, virá reanimar
Os baços espelhos e as chamas mortas.


Baudelaire



Saturado pela recusa
Debatendo-me com o cansaço
Cedi-me ao colchão

Desprendidamente
Esboço um espreguiçar
Procuro aliviar o desprezo

Sem nada alternativo
Recorro à masturbação


Porquê a Virgem Maria?


Incomodado
Por ser assaltado com tal imagem
Critico-me!...

Repugnou-me a ideia, a visão
Mas, acreditem
Foi das maiores fodas que dei até hoje

Abençoado o autor
De tão nobre e ilustre imagem





Luís F Simões\ Rascunho

(Parabéns meu! 1 abraço!)

sexta-feira, maio 21, 2004

Frase do dia: “A escrita ser a heroína ou, dito de outra forma, a heroína ser a própria escrita, não pode nunca tornar justificável que, agora, e logo agora (!?), tenha de passar a ser a escrita da heroína”.




Reflexo tonta a luz percorre a viela assim também os bêbedos caem ao longo das escadas o bar já está para fechar a conta pendurada o último piscar de olhos à empregada ao subir as escadas passam por ti a correr o cigarro apaga-se lá em cima a lua enjoada de serenatas e de guitarras sonha os uivos dos lobos semelhantes em tudo a palhaços tristes as gravatas os nós os laços semelhantes a homens que se enforcam calmamente como se passageiros de um outro mundo que parte”.



RMM




quinta-feira, maio 20, 2004

Frase do dia: “Anda lá, pá, volta a dar cor às nossas vidas, nada justifica a distância alguma, esse mesmo passado para o qual já nem o mundo se rala muito menos, só manipulação e orgulho dos fracos, anda lá, pá, volta a dar cor às nossas vidas, pergunta ao teu coração se não estavas muito mais feliz nessa altura, anda lá, pá, as portas nunca se fecharam, nem lábios, nem braços, muito menos apoio e presença, anda lá, pá, eu não sou louco e tu sabes, anda lá, pá, não leves a mal o que escrevo porque estas palavras são tuas, anda lá, pá, parte as correntes, deixa que os fantasmas morram, anda lá, pá, volta a dar cor às nossas vidas...”





A CONVERSA QUE SE SEGUE É DA NOSSA i RESPONSABILIDADE, e foi gravada em segredo numa outra cidade e num tempo de que ainda restam memórias, mas que já não se alcançam- a não ser num breve relâmpago de um simples fechar de pálpebras.


- O que é que foi?!!
- A X...
- E depois?
- Tás com carinha de cãozinho e sorriso parvo, como diz a Teresa Guilherme.
- Isso é completamente falso e tu não devias dizer que eu tenho cara de cão.
- É uma expressão que se utiliza para caracterizar os apaixonados. Mas não negues que há qualquer coisa, porque até combinaste sair com ela na semana passada para ir a Belém...
- Não há nada entre nós os dois, e só fui a Belém comer pastéis.
- Tá bem... tá! Pronto, eu fecho a boca. Mas continuo de olhos abertos.
- Pensares isso, ou estares desconfiada, faz com que não pareça que eu estou a agir normalmente. Só me apaixonei e amei uma vez na vida... Comprei-te uma prenda, mas só a vou dar no metro, se tu a mereceres, é claro.
- Então vou-me portar bem! Quanto a ela, foi isso que me ocorreu, porque parecia haver qualquer coisa entre vocês, e depois foi na outra quarta... ela andou a telefonar para saber o teu número... para saírem...
- Isso não tem mal nenhum! Se fosse um rapaz tu não estavas a pensar isso.
- Só estranhei, ocorreu-me. Mas talvez seja porque tu não és como os outros da turma e ela é sensata.
- Não percebo. Sou igual a qualquer outra pessoa. Por que é que ela, ou o que é que tem a ver... ela ser sensata?
- Esquece, já falámos sobre eles muito tempo. Tu és uma pessoa com quem se pode conversar e ela é uma pessoa que o sabe fazer. E se queres que te diga... eu começo-me a fartar de certas atitudes do P, por exemplo...
- Eu falo de igual para igual com todas as pessoas, mas sinto-me mais próximo de algumas. O que é que fez o P?
- Acreditas mesmo que as pessoas mudam? Eu acho que ele tá revestido de uma falsa modéstia. Assim como noto certa hostilidade dele em relação, por exemplo, a mim. Pensa que eu sou uma miúda parva, anda sempre com aquelas histórias de passar os dias a escrever e pensa que já é um mestre... Se calhar é de mim. Estou farta de presunçosos.
- Tu podes fazer a tua vida aqui, ou lá fora, sem te preocupares com o que ele ou as outras pessoas pensem ou digam de ti. Só devemos dar valor às pessoas de quem gostamos ou respeitamos. Se o que ele fala não te diz nada, também o que ele pensa sobre ti também não te deve dizer nada. Ele é, apesar de tudo, apenas mais uma pessoa e, por tal, não é mais nem menos do que quem quer que seja.
- Sim, eu sei... mas chateia-me.
- No caso do P só tens três hipóteses possíveis:
1- Ignoras,
2- Assumes o papel que ele te dá-o de miúda parva,
3- Entras em conflito directo.




Tempo de poema...



VOLÁTIL



Um pacto de não agressão assinado com Deus e com o Diabo;
Mafioso politicamente correcto, agindo na penumbra sob as luzes da ribalta.
Quando a luz é forte, quem vê?
Estrela irradiando energia, lançando os outros no caos das minhas falsas certezas.
Suicida que não se suicida, tão-pouco teme mais a morte que a vida.
Amante-quem o poderá deter?
Livre-para derreter todos os gelos e incendiar todas as almas.
Volátil...



Manuel Pereira

quarta-feira, maio 19, 2004

Frase do dia: “Bem, seja de que maneira for... tu sabes que eu estou aqui para ti”.





PREDATOR




Jardim de fenómenos velhos
As cores ganham um rosto
Descompassado o som ainda se insurge da vitrola
Corta-o um grito da noite vindo pelo quarto parágrafo
Quando alguém aperta os testículos do silêncio


O dia vem de negro como uma virgem desflorada pelo crepúsculo
Jardim de fenómenos velhos
Inquieto, subtil o predador alimenta as suas crias
Com a carne das suas presas no jardim


Quem grita- perguntam- podem responder
Flores corvos e asas de morcego
O grito descompassa a vitrola, a virgem foi branca
E ao quarto parágrafo o conhecido continua por conhecer
O desconhecido que permanece incógnito


Claus Min (RIP:74\98)




sábado, maio 15, 2004

Frase do dia: “Bem, lá vou eu para o frio outra vez”.



Dia macabro, desliguei-me de todas as lógicas racionais e deixei que, anos depois, fossem mais uma vez as cartas sobre a mesa a ditarem as sequências: O Louco contra O Mágico-tudo se foi sobrepondo- A Lua contra A Papisa- tudo se foi sobrepondo, mas é mais do que óbvio que a sanidade, ou o que dela restava, está bastante danificada. (mas quem é que define quem é o louco?!; eles, eles definem)
Manhã de sombras, tarde de pneus a chiarem sobre o sol, o anoitecer com uma voz longínqua de um tempo e de um rosto que já não se percebe se ainda faz parte.
Noite-senti a flor rasgada do gémeo mau que assola o meu peito e que me leva para o abismo.
Noite-rasgou-se por uma estrada em sangue e desvaneceu-se em esperma e suor.
Noite-assassinei aquele que ainda estava vivo no coração vivo e saltitante no espaço vivo.
Noite-destruí o resto de alguns valores morais numa cidade em que já não tenho espaço e na qual já não acredito.
Noite- pró inferno que a coma crua.
Dentro de 4 horas embarco.



Reparem que o tempo de um poema já não existe propriamente...

A partir de agora tudo será um poema e não aceito mais nada que não me pareça em verso...



“A jovem R sorriu quando me viu no teatro com os seus olhos verdes e quando me viu minutos depois no passeio escuro sorriu outra vez comentando que já era a segunda eu sorri com os meus olhos pretos nebulosos e baços pensando que a podia arrastar junto a mim e dar-lhe então o que ela queria ou que precisava mas... é claro que eu não sabia o que a jovem R queria ou que precisava mas podia ser mesmo aquilo que se faz que se pensa em qualquer passeio escuro pois este é o meu poema e nele tudo é possível.
E foi isso que fiz”.



RMM











sexta-feira, maio 14, 2004

Frase do dia: “Lembras-te daquela noite?”



BURACO



Arranje-me um buraco
ficar-lhe-ia eternamente grato
se me arranjasse um buraco
pode ser daqueles pequenos
dois metros quadrados, mais não
dispenso a janela, o ponto de fuga
basta uma arrecadação
cave ou sub-cave
secretária plastificada
monitor sem filtro
e um banquinho de cozinha
Arranje-me um buraco
ficar-lhe-ia eternamente grato
ocupo pouco espaço
sou pessoa de bom trato
venho a recibo verde
é barato, nem precisa de contrato
e, prometo
dou conta do mandato
sem cobrar extraordinárias




Paulo Barbosa, economia de palavras

quarta-feira, maio 12, 2004

Frase do dia: “Queres mesmo ver quem a tem maior?!!”



“Tornou-se estranho já não cobiças a mulher do próximo mas as mulheres dos próximos mas Deus tornou-se numa figura pálida o mundo ocidental carece de bombas e suicidas irados armados de dinamite explosivos autocarros pelos ares e corpos desfeitos em tripas da mesma maneira careces de ideologias e as tretas individualistas não entram em ouvidos mocos da mesma maneira eu não entendo nenhuma teoria crítica social que não se proponha destruir as bases da realidade falsa que nos odeia adio constantemente a minha explosão em granada e fragmento tento escrever mas não consigo o romance está parado há anos e anos o personagem desespera entre as linhas sonha com um outro autor possivelmente eu não acredito em Deus talvez apenas cobice a mulher do próximo o filho do próximo o frigorífico do próximo a escova de dentes e o papel higiénico mas tudo menos o próximo tudo menos os objectos tudo menos eu”.



RMM




DESEMPREGO



Tal como Rimbaud, as vozes instrutivas exiladas, a abominação a todos os modos de vida, a inabilidade na luta
Tal como La Boétie, perfilho o “Discurso Sobre a Servidão Voluntária”
Tal como o meu irmão, degrado-me na usura e sou dispensável
Tal como Belmiro, queixo-me da conjuntura e sou perverso
Agora, acordo preguiçoso, sem hora nem ponto, conhecendo as mutilações que nos aguardam, implacáveis
Tal como Ginsberg, fico sentado dias a fio a olhar as rosas na retrete
Colecciono máscaras e escrevo frase sob frase pelo cano abaixo



Paulo Barbosa








segunda-feira, maio 10, 2004

Frase do dia: “Os meninos amiguinhos gostam de hipopótamos fofinhos”.




POSTULADOS E MODUS OPERANDI, ou a mesma coisa de sempre quando se pretende fazer a mesma coisa de sempre



A ideia de fim da história, ou de estado último de desenvolvimento\destruição\aniquilação\evolução morreu, mesmo enquanto história, muito mais enquanto fim. Os neo-paradigmas são iguais a quaisquer outros produtos- têm prazo de validade, foram feitos para saírem das prateleiras e se tornarem obsoletos. Morre a ideia de fim. Mas nunca existiu uma ideia de um começo válido-nunca Adão e Eva, nunca mesmo os macacos em cima dos galhos.
- Quando é que saíste de cima da árvore?
- Quando te vi rastejar debaixo da pedra.
Tudo é consequência de qualquer coisa, embora muito também não o seja. A própria frase contradiz-se. As palavras nunca chegam nem alcançam nada.
Vive-se sobrevivendo ou só e apenas se existe numa era\época\situação\momento que passa e se acumula por cima do entulho de cada segundo\minuto\hora firmamento chutado da eternidade que passa, mas em que a ideia de um fim último de desenvolvimento morreu. Se bem que as ideias deterministas sejam na sua maioria inócuas, porque reduzem as pessoas a meros actores sociais, negando a lógica individual de cada um-porque tentam controlar e domesticar o que não tem controle-não deixa de ser verdade que uma certa ideia de começo também começou (o começo também se começa!?) a diluir aos poucos. A sociedade tornou-se o próprio reflexo do imediato e do tempo ausente. Esta é a era do nada em que os actos e as consequências deixaram de ter um significado de peso porque, gradualmente, aquilo que poderia ter um real interesse (sentimentos, emoções, altruísmo) passou a ser apenas um estado passageiro segundo a lógica de qualquer sociedade consumista. Traduz, na maior parte dos casos, uma adulteração do espaço do Eu em relação ao Outro. E hoje em dia parece que só existe o Eu, não quero nem saber do Outro, não estou nem aí para os problemas dos Outros. Ora, sendo Eu feito de uma soma de tudo o que me rodeia, de tudo o que imaginei e de tudo o que me foi imposto, de todos os outros... com a minha negação... o que é que existe? Apenas uma chacina da lógica identitária, de um contínuo recalcar de memórias e de tempo, apenas o fim da continuidade histórica, apenas dissertações vagas como esta. Apenas o reflexo do tempo ausente que passa. A mesma sede do imediato ou do programar a vida numa espécie de lógica andróide, apenas a masturbação em cadeia de egos em coro, mas afastados uns dos outros e a lutarem pelo mesmo espaço. Apenas a lógica individualista da vida aqui e agora, a mesma lógica que condena e condenará sempre o dia de amanhã e de todos os seus rebentos ao mais completo planeta de cinzas, ou só e apenas às cinzas mas sem planeta algum. A mesma vida que aniquila o passado, que o retrata conforme os seus próprios interesses, que hipoteca o futuro porque já se postulou que ele já nem sequer existe.
A vida do Homem de hoje mata a vida do Homem de amanhã. Apenas um holocausto, tão igual a tantos outros.

Hoje aprendo mais uma vez o que já sabia e que sempre soube. O meu lugar já não é aqui. Correcção: ele nunca foi.



Tempo de um poema...


“Sculptures, Maisons, Paysages”


Se necessário fosse preciso dizer o que é que eu diria?
As crias do meu silêncio na sombra verde o amanhã desperto
Cruza a fronteira! O fumo para além é sempre o mesmo
Max Ernst em Paris e a sua escultura em bronze
Ao seu gémeo arrancado ao gesso
Se fosse preciso dilacerar o peito o que arrancavas tu?
Astros mutilados, o teu campo de minas já não sem luz aguarda
E a sua biografia exposta na parede aos curiosos...
Curioso tapete vermelho quando o nosso muro pare os seus abortos no ventre
Padece aos nossos olhos o falo do chicote e a terra dá à luz os seus mestiços
Todos os movimentos morreram e a arte só de ontem descoberta
Já nem homens já nem ratos ilumina e na senda do
Homem-rato permanece o Rato-homem


Aguardo os holofotes no nosso campo de sementes
Híbridos sons aos nossos tímpanos, luz e água, terra e fogo e coca-cola
Sorris no teu carro em contramão e o teu preço já tem dono
Cruza a fronteira, esquece o passaporte, mas não te esqueças de me acordar bem cedo
Numa boîte em Paris qualquer coisa... qualquer coisa...
Regardez les jeunes-filles en mini-jupes!!!
E o Pato Donald e o Rato Mickey e o Pateta e a Clarabela

Mas repara que eu e tu e o aqui.. já nada dos três existe


Quando já nada te atrai o que é que pedes tu?
Qualquer coisa qualquer coisa numa boîte em Paris
Com limão ou não o vodka sabe sempre ao mesmo
Sabe sempre ao mesmo
Vodka



Claus Min (RIP-74\98)








quinta-feira, maio 06, 2004

Frase do dia: “Todos os deuses precisam dos seus profetas”.



IR



Era uma vez um rapaz que passeava na rua. Ia calmo, de mãos nos bolsos, tentando domesticar os pensamentos. De repente, uma voz o chama. E ele foi. Foi para o caralho que o foda.



Vitor Ferreira



quarta-feira, maio 05, 2004

Frase do dia: “Não me assustas nem me metes medo”.



A CONVERSA QUE SE SEGUE É DA NOSSA i RESPONSABILIDADE E FOI GRAVADA ALGURES NUM TEMPO E NUMA VIDA NÃO TÃO DISTANTES QUANTO ISSO


- Então e ontem?
- Nem queiras saber! O coração nas mãos! Pior dos dias, pior das noites.
- A sério? O que houve?
- Só espero é que já tenha acabado. Ela caiu. Ouvi o barulho da queda. Eram umas duas e tal da manhã... O inferno e a dor. Hoje continuava no mesmo estado sonolento.
- Para variar não dormiste...
- Destrói-me, ando com o sono completamente esmiuçado. Esbatido sabe-se lá aonde ou por onde...
- Mas tu tens de ter a consciência que o padrão da doença, o padrão de velhice é mesmo esse...
- Sim, mas por mais que se pense no assunto nunca se está preparado.
- Deus do céu!! Prepara-te para todos os cenários! Por mais esperança que tenhas, por mais forças... é necessário que tenhas essa consciencialização.
- Eu sei, por isso é que hoje, apesar de quase não ter tempo para ir almoçar, lá acelerei e zarpei para casa.
- Tenta espairecer, não te esqueças. Olha, o Nick Cave lançou um novo álbum. O outro de versões do Jonhy Cash parece porreiro. Olha, vem lá o F.
________________________________________________________________________________________________________________________
- Ela morreu.



Tempo de um poema



A DESTRUIÇÃO


Sem parar, ao meu lado, o Demónio agita-se;
Nada em torno de mim com um ar impalpável;
Vou-o engolindo, queima-me os pulmões e sinto-o
Enchê-los de um eterno desejo culpado.


Por vezes, conhecendo o meu amor pla Arte,
Toma a forma da mais sedutora mulher
E melífluo, a coberto de pretextos beatos,
Habitua os meus lábios a licores abjectos.


Vai-me guiando assim, longe do olhar de Deus,
Quebrado de cansaço, ofegante, no meio
Das planícies do Tédio, profundas, desertas,


E lança nos meus olhos cheios de confusão
Roupas emporcalhadas e feridas abertas
E a sangrenta mecânica da Destruição!



Baudelaire

segunda-feira, maio 03, 2004

Frase do dia: “Torturas a carne morta?”



Horas e horas atrás... viagem pela periferia da cidade aos berros surdos... a loucura nunca será a suficiente para sobreviver aos choques frontais, não interessa, não importa, vi o teu carro. Viagem pela periferia, horas e horas atrás, tudo está exposto, até mesmo a dor do peito fumarento e o rádio de canções de um tempo que já não é o nosso... sete pontos de prostituição identificados, dois de tráfico de droga, as relações e as redes entre tudo o que se mexe e tudo o que finge estar parado, vi o teu carro. O velho truque do traficante do telefone de parede, as prostitutas desaparecem com os clientes a um ritmo demasiado rápido mesmo sendo um sábado, a cumplicidade paga-se com a carne aos minúsculos grupos de controle, uma hipótese de exploração de menores para a prostituição, apenas uma suspeita, a cidade aos berros surdos, vi o teu carro. Horas e horas atrás, ainda depois a viagem curta pelos bairros sociais e uma ou outra luz acesa, os grupos de estudantes pré queima, um futuro marido entra com os amigos barulhentos no bar de strip, a cidade aos berros surdos, a velha que passeia junto ao rio, os peixes que se afogam, vi o teu carro.




“Ele sabe que nasceu fora do tempo e do contexto no parágrafo errado da história certa para ser lida a qualquer criança que sonhe em dormir ele atravessa a ponte vislumbrando o rio débil fio de água para a sede do gigante que não se vê ele vive na invisibilidade do possível mas como já não há heróis ele apenas navega na impossibilidade das coisas”.



RMM

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