domingo, julho 25, 2004
Frase do dia: “Deixou de existir qualquer ponto de retorno, as paredes encolheram o labirinto até um ponto em que o monstro já nem sequer lá habita... irremediavelmente, é óbvio que já não sou o mesmo, a cada segundo e segundo... mas será que esse meu Eu faz falta... achas mesmo?”
ANNE
Agora que Anne se foi
embora que olhos comparar
ao sol da manhã?
Não que eu os comparasse
outrora mas comparo-os agora
que ela se foi embora.
Leonard Cohen
quarta-feira, julho 21, 2004
Frase do dia: “Gostei muito de te ter aqui outra vez”.
LENDO-TE
para Hugh Seidman
É como se
o meu pai pudesse falar
Seu enorme corpo
silente e maciço
e sob a pele branca e fria
a merda sólida
a aversão
Homem, macho, seu caralho que eu amei
sobre todos os outros, sobre a bondade, tão sobre
o prazer amei seu ódio, a frieza,
a indiferença, o negrume sólido
A cabeça voltada para outro lado
Os olhos voltados para outro lado
O peito, as mamas, o fato de banho- metade
de mim, metade meu! Nunca meu, nada,
não sei qual de nós quero
eu matar por isso mas quero algum
sangue espesso
algum carvão no corpo algum
fogo esse copo ardente de bourbon
caralho prometido e nunca dado
pelo qual eu era capaz de me esfolar
Agora quebrando seu silêncio, vejo como te
extravasas sobre as palavras
extravasas sobre o fim dos versos
para te suspenderes no espaço negro isolado
só e humilhado, ali gingando como uma
estrela, um herói
Eis-me aqui fora contigo
agora contra o farrapo do silêncio
quebrado
Sharon Olds
(dedicado a ti que o leste para nós)
quarta-feira, julho 14, 2004
Frase do dia: “Só os fracos podem partir correntes, os fortes esquecem-se que elas existem”.
História E Real...
Há algum tempo. Não sei quando
Conheci um anjo num café de baixo brilho
Fumava um cigarro eterno e bebia
de um copo sujo
Como se sorvesse a alma em cada gota
Dilacerada pelo fumo e enterrada num sorriso
Que nunca se via, mas que sabia que lá estava
Na mesa, em frente, o mesmo livro
Amarelo de tão gasto, mas eternamente fechado
Abandonado a um canto como uma folha
de Inverno
nesse mundo, algures, eu estava parado
Pasmado na apatia sem loucura
No eterno veneno sem morte
Mas... ele erguia os olhos para o tecto sujo
E voltava a pousá-los sobre a mesa
Pois ele era um anjo
Planava sobre as coisas
Nunca as tocava
Nem talvez nunca as visse
Um dia sentou-se na minha mesa
Com um propósito qualquer
Apertou-me a mão e disse: “Eis o meu cartão!”- entregando-me um papel amassado, onde se podia ler:
ANJO E TODOS OS CAMINHOS PARA O CÉU
Acenei afirmativamente sem interesse
“Desculpe, amigo, mas não estou interessado em drogas” - disse-lhe à espera
que ele voasse
Mas não, deixou-se parado no silêncio
Até que todos os dias se foram
Assassinados por todas as noites
Um dia num café de baixo brilho
Conheci um anjo que fumava eternamente
Sorvendo todas as células do dia
Num copo sujo
Eu costumava vê-lo assim parado
Pois eu também lá estava assim
Vago e estúpido
Depois de ter chumbado todos os exames
E sido rejeitado em todos os círculos literários
Por ter mais de um metro e oitenta
E nunca fazer a barba
E... numa qualquer tarde
Sentou-se na minha mesa e disse: Eu e Deus, sabes, somos tu cá tu lá. Tens de vir beber um copo connosco!”
Sim, disse eu sem interesse
Um dia destes...
E a frase pairou durante anos e anos
Um dia destes...
Um dia encontrei-o numa cabina telefónica
Reconheceu-me e pediu-me uma moeda
Não tinha nenhuma e não lhe pude acudir
Porquê?- perguntou
Parquímetros- respondi. E ele parou no silêncio
Como se quisesse dormir de olhos abertos
Fiquei parado a olhá-lo
Fiquei parado a vê-lo assaltar uma mulher de uns quarenta, que fugiu aflita
E a vê-lo partir uma montra e a sair com a caixa registadora
Correu alegre para mim com as mãos cheias
de moedas e disse: “Consegui!”
Marcou um número e perguntou: “Está? Deus?”
Mas nenhuma voz se ouviu
Olhou-me atónito
Chegou um carro de polícia
Saíram dois polícias e levaram o anjo
Que não parava de abanar as asas aos gritos
E que queria falar com um advogado
Fiquei parado a olhá-lo
Partiu e nunca mais o vi
Não lhe disse que tinha telemóvel
Fiquei parado a olhá-lo
Mas depressa esqueci o assunto
Num café de baixo brilho
Costumava pairar um anjo fumante
O café é agora uma loja de sementes
E eu sou o empregado de balcão
Mas no tecto ainda paira o seu fumo
Brilhante, amarelo tal uma folha
de Inverno
Queimada por um sorriso que nunca se via
Mas que lá estava
Pode ter sido preso
E Deus ser mudo ou mal educado
Mas será sempre um anjo
Claus Min- RMM
História E Real...
Há algum tempo. Não sei quando
Conheci um anjo num café de baixo brilho
Fumava um cigarro eterno e bebia
de um copo sujo
Como se sorvesse a alma em cada gota
Dilacerada pelo fumo e enterrada num sorriso
Que nunca se via, mas que sabia que lá estava
Na mesa, em frente, o mesmo livro
Amarelo de tão gasto, mas eternamente fechado
Abandonado a um canto como uma folha
de Inverno
nesse mundo, algures, eu estava parado
Pasmado na apatia sem loucura
No eterno veneno sem morte
Mas... ele erguia os olhos para o tecto sujo
E voltava a pousá-los sobre a mesa
Pois ele era um anjo
Planava sobre as coisas
Nunca as tocava
Nem talvez nunca as visse
Um dia sentou-se na minha mesa
Com um propósito qualquer
Apertou-me a mão e disse: “Eis o meu cartão!”- entregando-me um papel amassado, onde se podia ler:
ANJO E TODOS OS CAMINHOS PARA O CÉU
Acenei afirmativamente sem interesse
“Desculpe, amigo, mas não estou interessado em drogas” - disse-lhe à espera
que ele voasse
Mas não, deixou-se parado no silêncio
Até que todos os dias se foram
Assassinados por todas as noites
Um dia num café de baixo brilho
Conheci um anjo que fumava eternamente
Sorvendo todas as células do dia
Num copo sujo
Eu costumava vê-lo assim parado
Pois eu também lá estava assim
Vago e estúpido
Depois de ter chumbado todos os exames
E sido rejeitado em todos os círculos literários
Por ter mais de um metro e oitenta
E nunca fazer a barba
E... numa qualquer tarde
Sentou-se na minha mesa e disse: Eu e Deus, sabes, somos tu cá tu lá. Tens de vir beber um copo connosco!”
Sim, disse eu sem interesse
Um dia destes...
E a frase pairou durante anos e anos
Um dia destes...
Um dia encontrei-o numa cabina telefónica
Reconheceu-me e pediu-me uma moeda
Não tinha nenhuma e não lhe pude acudir
Porquê?- perguntou
Parquímetros- respondi. E ele parou no silêncio
Como se quisesse dormir de olhos abertos
Fiquei parado a olhá-lo
Fiquei parado a vê-lo assaltar uma mulher de uns quarenta, que fugiu aflita
E a vê-lo partir uma montra e a sair com a caixa registadora
Correu alegre para mim com as mãos cheias
de moedas e disse: “Consegui!”
Marcou um número e perguntou: “Está? Deus?”
Mas nenhuma voz se ouviu
Olhou-me atónito
Chegou um carro de polícia
Saíram dois polícias e levaram o anjo
Que não parava de abanar as asas aos gritos
E que queria falar com um advogado
Fiquei parado a olhá-lo
Partiu e nunca mais o vi
Não lhe disse que tinha telemóvel
Fiquei parado a olhá-lo
Mas depressa esqueci o assunto
Num café de baixo brilho
Costumava pairar um anjo fumante
O café é agora uma loja de sementes
E eu sou o empregado de balcão
Mas no tecto ainda paira o seu fumo
Brilhante, amarelo tal uma folha
de Inverno
Queimada por um sorriso que nunca se via
Mas que lá estava
Pode ter sido preso
E Deus ser mudo ou mal educado
Mas será sempre um anjo
Claus Min- RMM
sexta-feira, julho 09, 2004
Frase do dia: “Eu não te vou deixar morrer outra vez”.
AS IRMÃS DO TESOURO SEXUAL
Assim que a minha irmã e eu saímos
de casa da nossa mãe só queríamos
era foder, obliterar
o seu corpo delgado de pardal e as finas
pernas de grilo. Os corpos dos homens
eram como o corpo do nosso pai! Os enormes
pernis, flancos, coxas, os torneados
joelhos, as longas canelas esguias-
podíamos possuí-lo, as nádegas íngremes
interditas, as costas dos joelhos, o caralho
na nossa boca, ah o caralho na nossa boca
Como exploradores que
descobrem uma cidade perdida, ficámos
doidas de alegria, despíamos os homens
lentamente com cuidado, como se
descobríssemos artefactos enterrados que
demonstravam a nossa teoria da cultura perdida:
a de que se a Mãe dizia que não havia lá nada
era porque havia.
Sharon Olds
AS IRMÃS DO TESOURO SEXUAL
Assim que a minha irmã e eu saímos
de casa da nossa mãe só queríamos
era foder, obliterar
o seu corpo delgado de pardal e as finas
pernas de grilo. Os corpos dos homens
eram como o corpo do nosso pai! Os enormes
pernis, flancos, coxas, os torneados
joelhos, as longas canelas esguias-
podíamos possuí-lo, as nádegas íngremes
interditas, as costas dos joelhos, o caralho
na nossa boca, ah o caralho na nossa boca
Como exploradores que
descobrem uma cidade perdida, ficámos
doidas de alegria, despíamos os homens
lentamente com cuidado, como se
descobríssemos artefactos enterrados que
demonstravam a nossa teoria da cultura perdida:
a de que se a Mãe dizia que não havia lá nada
era porque havia.
Sharon Olds
terça-feira, julho 06, 2004
Frase do dia: “Não digas que é pena, ou que nem a pena valeu, diz antes que valeu a pena”.
O Esférico Rolando...
A derrota da selecção nacional de futebol, frente à Grécia, deixou-nos a todos com um travo amargo na boca. É certo e, talvez, sabido que a História não se lembra dos segundos lugares, nem se escreve com os nomes dos vencidos, mas, mesmo assim, há certos aspectos positivos que toda esta “epopeia” trouxe e que, pelo menos por ora, conseguem sobrepor-se ao morrer, mais uma vez, na praia.
Sendo o futebol um campo emocional por excelência, não se torna muito lógico enquadrá-lo em outras perspectivas, ou esferas, pelas quais as leis da racionalidade (i)lógica se orientam- ao longo dos estreitos corredores labirínticos do comportamento social, delimitado por toda uma conjuntura específica.
Há quem faça críticas a todo este exagero nacionalista- e que ele pode ter fins perversos. De facto, o nacionalismo, em si, já carrega no seu âmago esse mesmo próprio extremismo- baseia- se na diferenciação de um Eu colectivo (definido por uma média incorrecta) em relação a todo um conjunto de Outros que lhe são exteriores. Não me parece que seja este o caso- baseando-me no mesmo carácter emocional do futebol- nem que o velho Salazar possa estar a dar pulos de contente no seu pijama mortuário.
A grande verdade é que o nacionalismo português vai buscar grande parte da sua argumentação retórica ao sentimento, mais ou menos entranhado, de inferioridade latente em relação aos outros países ocidentais mais desenvolvidos. O que contribui para grande parte desse sentimento- mais do que se ser dos últimos da União Europeia (em quase todos os balizadores de desenvolvimento social e económico) é uma visão completamente distorcida de todo um passado de pseudo-descobrimentos e de todo um império que ficou para trás. Pós 25 de Abril essas ideias começaram a esbater-se, a não serem tão bem aceites, e as ideias reinantes passaram a ser as do ser europeu- como se uma das nações mais antigas deste continente, um dos primeiros países a ser consolidado (sem ter bem a certeza se não terá sido mesmo o primeiro), não fizesse parte dessa mesma Europa. Mas isso é mesmo uma das características das sociedades actuais- os elos de pertença a um Todo passam a ser definidos por factores exclusivamente económicos e, com grande espanto, a simples geografia não basta. Segundo a retórica geral parece que seria mais fácil Israel entrar para a União Europeia do que a Turquia. Não interessa.
De todas as formas, parece que o futebol encarregou-se de reabilitar esse mesmo nacionalismo, mas de uma forma em que ele passou a ser redimensionado. Desta maneira, numa primeira análise, não nos parece que seja um nacionalismo de tipo ostracizante, ou intolerante, em relação aos outros que não se encaixam nos seus quadrantes. Convém lembrar que todas as acções, realmente, de peso partem e devem partir de uma certa vontade colectiva de mudança, de tentar fazer sempre melhor- desde que seja num sentido de uma procura pelo bem comum- a solidariedade, o altruísmo, etc.
Desta maneira, tendo por base todos estes mesmos aspectos, parece-me completamente ridículo as opiniões que ostentam ser motivo de prestígio e orgulho nacional a nomeação do ex-PM Durão Barroso para Presidente da Comissão Europeia. Realmente, não passa pela cabeça de alguém de mínimo bom senso (mesmo dentro do grupo dos que o elegeram) que tal nomeação possa ser benéfica para o país. Mas isto é mesmo assim, é outro dos erros dentro do grande erro que é a Democracia. Já se sabe que a democracia é apenas mais uma imposição, que nos tenta fazer acreditar que existe uma real vontade popular a determinar os destinos do país e das pessoas. Mas é falso, o jogo político de bastidores apenas se baseia (em 78% dos casos, aproximadamente) no distribuir e redistribuir os diversos tachos que sobram. Não se trata de criticar a União Europeia- o português comum nem sabe bem o que ela é ou o que ela faz. Mas, esquecendo-nos, momentaneamente, do facto de a democracia ser o embuste que é, cingindo-nos aos seus valores, parece completamente ridículo que um primeiro ministro de um país resolva abandonar o cargo, a meio do mandato, para ir ocupar um outro qualquer que seja, com a desculpa de ser benéfico e de prestígio para o mesmo.
Depois de terem feito tudo o que estava ao alcance para achincalharem (ainda mais do que é costume) as eleições para o Parlamento Europeu- evitando, propositadamente o debate de ideias (porque não as tinham ou têm)- tentando, a todo o custo, com que elas passassem o mais despercebidas possíveis- para tentar camuflar a derrota evidente- com todos os esquemas e artimanhas de obscurantismo “iluminado”- que, agora, poucas semanas depois, com todo o país a pensar no Euro, possam ter a petulância de tentarem vender- como um qualquer iogurte- que a presidência da Comissão Europeia é de prestígio para Portugal. É deveras estranho. A não ser que sejam sinais evidentes de um certo nacionalismo bacoco que pensa que o país só se poderá desenvolver se estiver alinhado, e a dar nas vistas, com as esferas internacionais daqueles que dominam- a mesma lógica que esteve inerente à cumplicidade (i)moral com a política de genocídio da coligação que invadiu o Iraque. Sempre o dar nas vistas. Sempre o querer parecer bem. Mas sem o parecer. Muito menos o ser.
Pergunta-se agora se vale a pena eleições antecipadas ou não. Ao que tudo indica, ao sr. Durão já não lhe interessará muito o tema. Tem agora um tacho mais bem pago e não terá de ficar para assistir ao circo. Quanto aos outros... Não sou adepto da democracia, mas querer manter um governo que, como se viu nas últimas eleições, já não representa essa mesma maioria ilusória, que conduziu o país a uma grave crise económica e social, que o vendeu (i)moralmente aos interesses dos lobbys da guerra e do saque, que o fez cair numa crise de confiança- e não é à toa que o futebol teve tanto impacto (as pessoas esquecem-se dos seus problemas, projectam as suas esperanças pessoais num evento desportivo, a exemplo de sociedades de perfis terceiro-mundistas como é o caso do Brasil)... apenas porque burocraticamente é possível... realmente, ainda acho mais ridículo que o rato que saiu do navio que se afundava...
... enquanto os marinheiros jogavam à bola.
Ricardo Mendonça Marques
O Esférico Rolando...
A derrota da selecção nacional de futebol, frente à Grécia, deixou-nos a todos com um travo amargo na boca. É certo e, talvez, sabido que a História não se lembra dos segundos lugares, nem se escreve com os nomes dos vencidos, mas, mesmo assim, há certos aspectos positivos que toda esta “epopeia” trouxe e que, pelo menos por ora, conseguem sobrepor-se ao morrer, mais uma vez, na praia.
Sendo o futebol um campo emocional por excelência, não se torna muito lógico enquadrá-lo em outras perspectivas, ou esferas, pelas quais as leis da racionalidade (i)lógica se orientam- ao longo dos estreitos corredores labirínticos do comportamento social, delimitado por toda uma conjuntura específica.
Há quem faça críticas a todo este exagero nacionalista- e que ele pode ter fins perversos. De facto, o nacionalismo, em si, já carrega no seu âmago esse mesmo próprio extremismo- baseia- se na diferenciação de um Eu colectivo (definido por uma média incorrecta) em relação a todo um conjunto de Outros que lhe são exteriores. Não me parece que seja este o caso- baseando-me no mesmo carácter emocional do futebol- nem que o velho Salazar possa estar a dar pulos de contente no seu pijama mortuário.
A grande verdade é que o nacionalismo português vai buscar grande parte da sua argumentação retórica ao sentimento, mais ou menos entranhado, de inferioridade latente em relação aos outros países ocidentais mais desenvolvidos. O que contribui para grande parte desse sentimento- mais do que se ser dos últimos da União Europeia (em quase todos os balizadores de desenvolvimento social e económico) é uma visão completamente distorcida de todo um passado de pseudo-descobrimentos e de todo um império que ficou para trás. Pós 25 de Abril essas ideias começaram a esbater-se, a não serem tão bem aceites, e as ideias reinantes passaram a ser as do ser europeu- como se uma das nações mais antigas deste continente, um dos primeiros países a ser consolidado (sem ter bem a certeza se não terá sido mesmo o primeiro), não fizesse parte dessa mesma Europa. Mas isso é mesmo uma das características das sociedades actuais- os elos de pertença a um Todo passam a ser definidos por factores exclusivamente económicos e, com grande espanto, a simples geografia não basta. Segundo a retórica geral parece que seria mais fácil Israel entrar para a União Europeia do que a Turquia. Não interessa.
De todas as formas, parece que o futebol encarregou-se de reabilitar esse mesmo nacionalismo, mas de uma forma em que ele passou a ser redimensionado. Desta maneira, numa primeira análise, não nos parece que seja um nacionalismo de tipo ostracizante, ou intolerante, em relação aos outros que não se encaixam nos seus quadrantes. Convém lembrar que todas as acções, realmente, de peso partem e devem partir de uma certa vontade colectiva de mudança, de tentar fazer sempre melhor- desde que seja num sentido de uma procura pelo bem comum- a solidariedade, o altruísmo, etc.
Desta maneira, tendo por base todos estes mesmos aspectos, parece-me completamente ridículo as opiniões que ostentam ser motivo de prestígio e orgulho nacional a nomeação do ex-PM Durão Barroso para Presidente da Comissão Europeia. Realmente, não passa pela cabeça de alguém de mínimo bom senso (mesmo dentro do grupo dos que o elegeram) que tal nomeação possa ser benéfica para o país. Mas isto é mesmo assim, é outro dos erros dentro do grande erro que é a Democracia. Já se sabe que a democracia é apenas mais uma imposição, que nos tenta fazer acreditar que existe uma real vontade popular a determinar os destinos do país e das pessoas. Mas é falso, o jogo político de bastidores apenas se baseia (em 78% dos casos, aproximadamente) no distribuir e redistribuir os diversos tachos que sobram. Não se trata de criticar a União Europeia- o português comum nem sabe bem o que ela é ou o que ela faz. Mas, esquecendo-nos, momentaneamente, do facto de a democracia ser o embuste que é, cingindo-nos aos seus valores, parece completamente ridículo que um primeiro ministro de um país resolva abandonar o cargo, a meio do mandato, para ir ocupar um outro qualquer que seja, com a desculpa de ser benéfico e de prestígio para o mesmo.
Depois de terem feito tudo o que estava ao alcance para achincalharem (ainda mais do que é costume) as eleições para o Parlamento Europeu- evitando, propositadamente o debate de ideias (porque não as tinham ou têm)- tentando, a todo o custo, com que elas passassem o mais despercebidas possíveis- para tentar camuflar a derrota evidente- com todos os esquemas e artimanhas de obscurantismo “iluminado”- que, agora, poucas semanas depois, com todo o país a pensar no Euro, possam ter a petulância de tentarem vender- como um qualquer iogurte- que a presidência da Comissão Europeia é de prestígio para Portugal. É deveras estranho. A não ser que sejam sinais evidentes de um certo nacionalismo bacoco que pensa que o país só se poderá desenvolver se estiver alinhado, e a dar nas vistas, com as esferas internacionais daqueles que dominam- a mesma lógica que esteve inerente à cumplicidade (i)moral com a política de genocídio da coligação que invadiu o Iraque. Sempre o dar nas vistas. Sempre o querer parecer bem. Mas sem o parecer. Muito menos o ser.
Pergunta-se agora se vale a pena eleições antecipadas ou não. Ao que tudo indica, ao sr. Durão já não lhe interessará muito o tema. Tem agora um tacho mais bem pago e não terá de ficar para assistir ao circo. Quanto aos outros... Não sou adepto da democracia, mas querer manter um governo que, como se viu nas últimas eleições, já não representa essa mesma maioria ilusória, que conduziu o país a uma grave crise económica e social, que o vendeu (i)moralmente aos interesses dos lobbys da guerra e do saque, que o fez cair numa crise de confiança- e não é à toa que o futebol teve tanto impacto (as pessoas esquecem-se dos seus problemas, projectam as suas esperanças pessoais num evento desportivo, a exemplo de sociedades de perfis terceiro-mundistas como é o caso do Brasil)... apenas porque burocraticamente é possível... realmente, ainda acho mais ridículo que o rato que saiu do navio que se afundava...
... enquanto os marinheiros jogavam à bola.
Ricardo Mendonça Marques
sexta-feira, julho 02, 2004
Frase do dia: “Pêras vermelhas, se tu dizes que existem, Ana, eu também as sinto na minha mão”.
“Não não não não te dissolvas no solvente venenoso da minha língua não não te dissolvas esquecendo que a vida de hoje é igual ao sonho de ontem e o amanhã é trágico não não não te esqueças de me lembrar quando eu for embora não não não te aborreças se um dia já não me vires chegar não não não te esqueças de me lembrar de te fazer esquecer não não não me perdoes se um dia partir e te dizer que nunca mais voltarei aos teus braços que choram não não não te esqueças de me fazer negar todo este não não não te dissolvas apenas perdoa e esquece este um dia em que eu não não não nunca mais te encontrar não não não te dissolvas”.
RMM
“Não não não não te dissolvas no solvente venenoso da minha língua não não te dissolvas esquecendo que a vida de hoje é igual ao sonho de ontem e o amanhã é trágico não não não te esqueças de me lembrar quando eu for embora não não não te aborreças se um dia já não me vires chegar não não não te esqueças de me lembrar de te fazer esquecer não não não me perdoes se um dia partir e te dizer que nunca mais voltarei aos teus braços que choram não não não te esqueças de me fazer negar todo este não não não te dissolvas apenas perdoa e esquece este um dia em que eu não não não nunca mais te encontrar não não não te dissolvas”.
RMM