quarta-feira, junho 16, 2004
Frase do dia: ”A vida ensina-nos lições, mas quando é que a vida aprende?!”.
Desabafo existencialista de uma tarde quente
Estou deveras cansado. Disse, algures, que isto era um blog sobre a dor, mas, realmente, a dor já me está a cansar. Penso sinceramente em acabar com isto de vez e, mesmo dentro deste universo vazio sem rosto, se bem que as cicatrizes da navalha expostas me tragam a urgência de rasgar sempre um pouco mais, não importa, cada vez mais sinto que não vale a pena. Tal como nunca valeu. A pena.
Apenas pela memória de um tempo sem significado, apenas na cabeça iludida e nas mãos deste mesmo que escreve, apenas por qualquer coisa encarregada de explodir nas mesmas mãos decepadas, apenas a urgência de um fim que valha a pena, que sinta que signifique que o sentimento exista... mesmo que nenhum fim sentimental exista.
Demasiado grande o compromisso para que se transforme numa coisa pequena. Demasiado compromisso para que possa escapar impune.
“... temos de ir construindo, em cima disto tudo, o que vai negar isto tudo. O que nos vai negar, Paizinho.
Eu sei, mas para ter a certeza, que não posso nunca ter, não é uma coisa feita por medida, como um fato, não tem uma certeza na medida de cada qual mesmo que cada qual vista sua certezinha consigo e sem ela não se pode viver, preciso de te ouvir dizer o que eu sei bem, mas que, dito por ti, por outro alheio, é mais certo: o teu relativo vira absoluto meu- solidariedade, é assim?- e vai também me tranquilizar, nascer a certeza que depois vou destruir e destruindo-lhe para lhe reconstruir e ir assim, contigo que não és só tu mas nós, os do Makulusu, fabricando, não a certeza, mas certezas que vão nos ajudar a ser nem cobardes nem heróis: homens só. Dos cobardes não reza a história, mas o pior, Maninho, quanto mais heróis tem um povo, mais infeliz é”.
José Luandino Vieira, Nós, os do Makulusu

Desabafo existencialista de uma tarde quente
Estou deveras cansado. Disse, algures, que isto era um blog sobre a dor, mas, realmente, a dor já me está a cansar. Penso sinceramente em acabar com isto de vez e, mesmo dentro deste universo vazio sem rosto, se bem que as cicatrizes da navalha expostas me tragam a urgência de rasgar sempre um pouco mais, não importa, cada vez mais sinto que não vale a pena. Tal como nunca valeu. A pena.
Apenas pela memória de um tempo sem significado, apenas na cabeça iludida e nas mãos deste mesmo que escreve, apenas por qualquer coisa encarregada de explodir nas mesmas mãos decepadas, apenas a urgência de um fim que valha a pena, que sinta que signifique que o sentimento exista... mesmo que nenhum fim sentimental exista.
Demasiado grande o compromisso para que se transforme numa coisa pequena. Demasiado compromisso para que possa escapar impune.
“... temos de ir construindo, em cima disto tudo, o que vai negar isto tudo. O que nos vai negar, Paizinho.
Eu sei, mas para ter a certeza, que não posso nunca ter, não é uma coisa feita por medida, como um fato, não tem uma certeza na medida de cada qual mesmo que cada qual vista sua certezinha consigo e sem ela não se pode viver, preciso de te ouvir dizer o que eu sei bem, mas que, dito por ti, por outro alheio, é mais certo: o teu relativo vira absoluto meu- solidariedade, é assim?- e vai também me tranquilizar, nascer a certeza que depois vou destruir e destruindo-lhe para lhe reconstruir e ir assim, contigo que não és só tu mas nós, os do Makulusu, fabricando, não a certeza, mas certezas que vão nos ajudar a ser nem cobardes nem heróis: homens só. Dos cobardes não reza a história, mas o pior, Maninho, quanto mais heróis tem um povo, mais infeliz é”.
José Luandino Vieira, Nós, os do Makulusu
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