terça-feira, junho 22, 2004
Frase do dia: “Tu és uma má pessoa, tentas é ser boa... não é ao contrário”.
Já chega de loucura. Ex nihilo, nihil.
ENCONTRADO MAIS UMA VEZ IGNORANDO OSTENSIVAMENTE OS CISNES
Encontrado mais uma vez ignorando ostensivamente os cisnes que apaixonam os espectadores das margens dos rios americanos; encontrado mais uma vez a deixar caducar o negócio da China só porque o telefone tem uma correspondência mágica com a minha bicha-solitária. Encontrado mais uma vez a deixar a humanidade engalanada entregue ao perigo de um longo repouso oficial, enquanto os mármores aguardam preparados em históricos e deprimentes salões interiores. Encontrado mais uma vez a humilhar o funcionário do banco numa disputa de olhos nos olhos, dogma da arte, vidas errantes de olhares fixos e de outros murmúrios teatrais de génio; encontrado mais uma vez o objecto eleito da ansiedade celestial, como quem monta uma cilada a um eremita na floresta com visões de um parque de estacionamento superlotado; encontrado mais uma vez com camisolas a cheirar a naftalina, titulando filmes familiares, desenredando victorianos aparelhos de pesca ao salmão, fanaticamente convencido que há um mundo numa ordem fraternalmente ao virar da esquina. Encontrado mais uma vez a fazer planos para o ano ideal solitário que espera por mim como um primeiro amor carnal num calendário de opções de terceira mão; encontrado mais uma vez como uma estrela de papel devorando o fio suspenso no ar sobre as mãos que me trazem de comer e falando com eloquência sob influência astrológica; encontrado outra vez a vender a acessível inocência local enquanto no Pentágono a maldição de Tiffany só por si pode garantir o meu poder; encontrado mais uma vez confiando que os meus amigos foram criados no Paraíso e que não me hão-de fazer mal quando por fim eu estiver sem couraça e absolutamente silencioso; encontrado mais uma vez no princípio de todas as coisas, veterano de vários sacrifícios inúteis, profético mas não seminal, o purista para as massas do futuro; encontrado mais uma vez adoçando a vida que tinha abandonado, como um guarda do jardim zoológico despedido que atira furtivamente amendoins a elefantes públicos sodomizados; encontrado mais uma vez a exibir o arco-íris, o que prova que apenas tenho acesso às minhas necessidades mais urgentes; encontrado mais uma vez a limpar a minha língua de todas as possibilidades, de todas as possibilidades excepto a minha, a perfeita.
Leonard Cohen
Já chega de loucura. Ex nihilo, nihil.
ENCONTRADO MAIS UMA VEZ IGNORANDO OSTENSIVAMENTE OS CISNES
Encontrado mais uma vez ignorando ostensivamente os cisnes que apaixonam os espectadores das margens dos rios americanos; encontrado mais uma vez a deixar caducar o negócio da China só porque o telefone tem uma correspondência mágica com a minha bicha-solitária. Encontrado mais uma vez a deixar a humanidade engalanada entregue ao perigo de um longo repouso oficial, enquanto os mármores aguardam preparados em históricos e deprimentes salões interiores. Encontrado mais uma vez a humilhar o funcionário do banco numa disputa de olhos nos olhos, dogma da arte, vidas errantes de olhares fixos e de outros murmúrios teatrais de génio; encontrado mais uma vez o objecto eleito da ansiedade celestial, como quem monta uma cilada a um eremita na floresta com visões de um parque de estacionamento superlotado; encontrado mais uma vez com camisolas a cheirar a naftalina, titulando filmes familiares, desenredando victorianos aparelhos de pesca ao salmão, fanaticamente convencido que há um mundo numa ordem fraternalmente ao virar da esquina. Encontrado mais uma vez a fazer planos para o ano ideal solitário que espera por mim como um primeiro amor carnal num calendário de opções de terceira mão; encontrado mais uma vez como uma estrela de papel devorando o fio suspenso no ar sobre as mãos que me trazem de comer e falando com eloquência sob influência astrológica; encontrado outra vez a vender a acessível inocência local enquanto no Pentágono a maldição de Tiffany só por si pode garantir o meu poder; encontrado mais uma vez confiando que os meus amigos foram criados no Paraíso e que não me hão-de fazer mal quando por fim eu estiver sem couraça e absolutamente silencioso; encontrado mais uma vez no princípio de todas as coisas, veterano de vários sacrifícios inúteis, profético mas não seminal, o purista para as massas do futuro; encontrado mais uma vez adoçando a vida que tinha abandonado, como um guarda do jardim zoológico despedido que atira furtivamente amendoins a elefantes públicos sodomizados; encontrado mais uma vez a exibir o arco-íris, o que prova que apenas tenho acesso às minhas necessidades mais urgentes; encontrado mais uma vez a limpar a minha língua de todas as possibilidades, de todas as possibilidades excepto a minha, a perfeita.
Leonard Cohen
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