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quarta-feira, março 17, 2004

Frase do dia: “Compreender o desistir quando já se desistiu de compreender”.



POSTULADOS E MODUS OPERANDI, ou a luta pela luta mesmo que já nem se saiba como e com quem se está a lutar


Falar com uma parede não significa que ela não responda.

Dar-lhe com a cabeça também não significa que ela não parta.


No início da escravatura no continente americano a maior parte da força escrava utilizada era autóctone. Ou seja, era índia. Sendo os índios os donos da terra que estava a ser colonizada a sua tendência foi lutar contra esta situação e renegaram ser escravizados numa terra que era sua.
Isto não abalou os colonizadores, viraram-se para a África que já tinham invadido e começaram a trazer escravos negros. Para os colonizadores era apenas uma questão económica: 1 índio + 1 índio= 1 negro
Desta maneira, baseando-se também nas ditas capacidades físicas dos negros, foram estes que começaram a trazer nos seus navios negreiros de carne a retalho.
Para os africanos a situação era diferente. Eram escravos na sua própria terra (vendidos como mercadoria) e agora eram escravos na terra de outros. O seu peso à terra era diferente do dos índios que eram livres e renegaram essa mesma escravatura para continuarem a ser “livres” nas suas terras, mesmo que desapropriados das mesmas.
Ora, o que é que História nos mostrou? Os índios morreram quase todos ou vivem confinados em reservas, um ou outro espalhado sabe-se lá por onde. Assimilados, na melhor das hipóteses, numa espécie de genocídio cultural.
Os negros sobreviveram e as sociedades americanas são cada vez mais negras ou mestiças (em população, não em Poder). Note-se que quando o tráfico de escravos foi interdito para o continente americano a prática dos senhores neo-feudais passou a “incentivar”, ainda mais, a procriação de escravos em cativeiro. Desta maneira, mesmo com tantas chagas abertas, a população escrava poder-se-ia manter durante muito tempo.

Com base no exemplo coloca-se esta questão: A morte ou a escravatura?

A um indivíduo isolado é sempre mais fácil escolher a visão romântica que é a primeira, a do índio, antes sempre a morte.
Para um suposto grupo (ou "espécie", ou o que se determine como sendo um país) a sobrevivência nunca pode ser pensada no imediato.

No entanto qualquer uma das situações é tão perversa quanto a outra. O único peso reside naquele que tem o chicote. Não lhe interessa nem uma nem outra.
Para ele só há uma questão: Quem serve? Se não for um há-de sempre haver outro. Esta é a pergunta primeira e ela é que fundamenta a outra. Tal como hoje...

Ao anulá-la aquela que a precede nem sequer se coloca.


Tempo de um poema...


As mãos crispava sob o meu xale escuro...
Por que estás hoje tão pálida?
- Por minha culpa ele saiu daqui infeliz
e cheio de amargura.


Nunca esquecerei quando partiu,
a ruga da sua boca crispada;
eu desci a escada a correr
e voltei a encontrá-lo ao portão.


Sem alento, gritei: «Não era a sério
nada. Se te vais morrerei.»
O seu sorriso era calmo e sinistro
ao dizer-me: «Não fiques na corrente de ar.»



Anna Akhmátova
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