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sábado, fevereiro 07, 2004

Ontem, entre copo e copo e copo e copo e copo e copo, pensei seriamente em cortar de vez com a origem dos meus medos; como se pudesse anular as causas e as causalidades expondo os problemas redondamente no tapete da desilusão e da falta de esperança em relação aos becos sem saída. O dilema é aquilo que a própria palavra significa: qualquer das soluções é igualmente má. O não fazer nada é o que se vive. Resta sempre a outra hipótese.
“Nada no mundo vale que nos afastemos daquilo que amamos”. Camus- Sim, mas...
“E, no entanto, também eu me afasto, sem que saiba dizer porquê”. Camus, sequência da mesma frase. Mas... Mas...
Compreendo, a sério que compreendo.
Como dizia Freud: “Só não há remédio para os apaixonados”.
Muitos e muitos anos atrás, numa noite muito e muito atrás, matei um homem. Nunca ninguém soube. Eu era muito jovem. Não havia outra hipótese. Ou será que havia?! Cheguei a casa com o corpo coberto de sangue e, quando abri a porta de casa, o meu cão começou a uivar como se fosse um lobo. Entrou em delírio. A sério que o compreendo. Mas era ele ou ele e, como já o disse, eu era muito novo.
Da mesma maneira que a democracia é o novo cristianismo... não se esqueçam-tornemo-nos todos cordeiros!! Seremos sempre mais fáceis de guiar, guizos ao pescoço, lã espessa, cornos insinuantes, é sempre bom estar na moda, meus amigos.
O que é mais violento? O lobo convencido que é uma ovelha ou o gato a pensar que é um tigre?
Não sei, Nós seremos sempre a minoria em relação aos Outros.
Supermercados cheios, bolsos e barrigas vazias.
Há muitas e muitas formas mas todos os Holocaustos encenam os mesmos Faustos.

O DIÁLOGO QUE SE SEGUE É DA AUTORIA DOS AUSENTES, e foi gravado em segredo numa boutique de pão (que é mais “bem” do que padaria)

- Por que é que estás chateado?
- Sei lá!!! Porque a puta da vida chateia-me, não tem continuidade. Vivo no abstracto das coisas.
- O que é o abstracto?
- É qualquer coisa que não é concreta, não tem realidade palpável. É o pensamento que me persegue, que me escreve, que me mutila...
- Dizes que é o pensamento...
- Exacto, a inércia dos dias, dos acontecimentos, das pessoas ou da falta delas!
- Por que é que não fazes qualquer coisa para passar o tempo?
- Olha, hoje bati duas punhetas, talvez ainda bata outra, a ver filmes porno. Fiquei com a piça dorida...
- Não é isso, caralho!! Por que é que não te ocupas com algo?
- Eu tento ler, às vezes leio... ler é uma continuidade. Escrever nem sempre consigo, quase nunca consigo. Faz-me tédio, percebes? Mais do que tédio... é antes uma grande preguiça... um grande medo...
- Por que é que não estudas?
- Realmente... sim, devia fazer o Seminário, não sei é como. As outras cadeiras... na sua altura... se conseguir. Tenho que conseguir!
- Isso é confuso... Sei que não vais às aulas... Como é que passas o tempo?
- De vez em quando acordo mais cedo. Saio para tomar café. Continuar a fumar como um cavalo. Gastar $ em máquinas. À tarde... tomar café, geralmente no do Teatro, tentar encontrar um ambiente agradável para qualquer coisa de ler ou de escrever, conforme. Geralmente estava por lá o P, agora foi-se embora, o R vem às vezes... começo a ter-lhe uma certa hostilidade, talvez seja mútuo... não sei. Ele valeu-se da imagem da T para se insinuar nos sítios, em parte arrastou-a para a merda da noite onde conheceu e conhece toda aquela escumalha.
- Porquê escumalha?
- Porque toda a gente é escumalha!!! Até eu sou escumalha!! Gostava de matar toda a gente! E... agora que penso... não é bem matar, é antes esventrar, arrancar-lhes os olhos, esfaquear, sei lá...
- Por que é que não te acalmas?
- Porque a calma é o vazio, a inércia, o não querer saber...
- Não consegues ver meio termo?
- Homens malditos vão de um extremo ao outro e eu cada vez me sinto mais maldito.
- Como à imagem de todos aqueles escritores malditos?
- Talvez... não esses, talvez outros que, presos à sua consciência implacável, como o Lautréamont dizia, não conseguiram sair do vazio, do nada. Perderam-se no pó das coisas. Talvez seja o que me reserva.
- Mas... e o que mais fazes durante o dia?
- Como diria o Poeta: “O mesmo que durante o resto do tempo”.
- O quê?
- “Nada”.

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