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terça-feira, fevereiro 10, 2004

NIMROD

Os talibans destruíram os budas
Outros derrubaram as torres
Todos os deuses caem

A CONVERSA QUE SE SEGUE É DA i RESPONSABILIDADE DOS SENHORES QUE NÃO SE SEGUEM, e foi gravada em segredo numa casa de alterne

- Por que é que vieste cá parar?
- Vim cá parar com o mesmo embrutecimento gradual, perda de sensibilidade...
- O que é que entendes por perda de sensibilidade?
- Não sei, antes ainda havia tristeza ou ódio, hoje só sinto embrutecimento.
- Algo de mau?
- Algo como ser mau. Ou pensar que posso caminhar para lá.
- O que é que é mais saudável?
- Tudo menos este desligamento obtuso. Sinto-me como num flipper.
- Quais são as soluções reais?
- Não existe realidade para existirem soluções reais.


“É “inimigo” que deveis dizer, mas não “facínora”; é “doente” que deveis dizer, mas não “patife”; é demente que deveis dizer, mas não “pecador”.
E tu, juiz vermelho, se quisesses dizer em voz alta tudo aquilo que já fizeste em pensamento, pois toda a gente gritaria: “Fora com esta imundície, este verme peçonhento!”.
Mas uma coisa é o pensamento, outra é o acto, outra ainda, a imagem do acto. A roda da razão não roda por entre elas.
Foi uma imagem que fez empalidecer esse homem pálido. Ele estava à altura do seu acto, quando o cometeu; mas, uma vez este perpetrado, ele não suportou a respectiva imagem.
Então, passou a ver-se sempre como o autor de um só acto. A isso eu chamo demência: a excepção transformou-se para ele em essência.
O traço de giz hipnotiza a galinha; o golpe, que ele executou, cativou a sua pobre razão; a isso chamo eu alienação mental após o acto.”“.

Assim falava Zaratustra, Friedrich Nietzsche


O DIÁLOGO QUE SE SEGUE É DA NOSSA i RESPONSABILIDADE, e foi gravado sem tu saberes no Jardim da Sereia e da Celeste

- O que mais relevante aconteceu ontem?
- Nada propriamente que me lembre de cabeça. Fui à tarde ao Santa Cruz. Um tipo estranho e bêbedo insurgiu-se no meu caminho para eu lhe apertar a mão, mas eu evitei-o.
- E à noite?
- Tive uma reunião com o pessoal das aulas. Confesso que aquilo atrofiou-me um bocado. A superstar D saiu mais cedo, uma parte da minha matéria passou para o J, mas ainda bem. A F estava incrivelmente sexy. Fantasiei abrir-lhe a camisa e meter a boca nos seus seios.
- És sempre o mesmo! E mais?
- Olha, acabei por sair com o P que me telefonou. Ainda encontrámos o M no Tropical mas ele estava preso às cenas dos anos e ia ver a fórmula 1. Fomos à porcaria de um pseudo-bar de jazz, um sítio nojento de betos, fomos ao Piano Negro, encontrei lá pessoal como o R e o F, depois fomos ao Buraco Negro.
- E então? Aquela cena da S é sempre dúbia, não é? Também veio a D, não é, a perguntar sobre o hoje...
- Exacto. Sinto-me estranho... não é que tudo seja igual. Muito pouco a declarar. O metálico curtiu o CD, estavam por lá o D mais a namorada, o F da Figueira mais a namorada...
- E depois saíste e tiveste aquela sensação...
- Sim, quando estava a falar com o P e pairámos cá fora para ouvirmos a música dos Sisters of Mercy... para eu lhe dizer que a cantora Ofra Haza morreu. Quando me virei vi a C a entrar.
- Chocou-te?
- Terrível, terrível. Até mais porque à tarde tive aquele déjà vue ao passar sistematicamente pelo Trianon e ela estar lá sentada sozinha. Ainda pensei lá ir mas resolvi não me tornar ainda mais estranho. Estive muito tempo a falar com o P sobre as realidades paralelas que são perfeitamente possíveis de se viver.
- E hoje o dia desabou?
- Foi o pior dia do ano em tempo. Não me lembro de um aguaceiro tão grande. No entanto, até agora pelo menos, acho que foi o melhor dia do ano. Encontrei-me com a D em frente ao Tropical em pleno aguaceiro. Passámos ainda pelo TAGV. Surgiu o Louco que também a conhece. Fomos até ao Avenida, até ao meu mítico café Zami.
- E então? Sei que houve uns momentos mais fracos, mas tu conseguiste com que as coisas funcionassem...
- Até um certo ponto. Falámos sempre sobre coisas demasiado íntimas.
- Ela é linda, elegante, sexy...
- Mas demasiado volátil. Menti-lhe quando disse que sabia o que esperar ou contar das pessoas. No caso dela não consigo ver isso, como se houvesse um véu de cimento.
- E leste-lhe alguns poemas?
- Exacto. Terrivelmente único o momento, terrivelmente lindo. Senti que o “Peito contra o peito nu contra o espelho” a afectou terrivelmente.
- E depois, subiram até à Praça para tirarem os carros...
- Sim, e as despedidas são sempre a pior das coisas. Beijámo-nos por baixo de um céu que secava, mas tudo à nossa volta estava feito em água, lagos e lagos, lagos e rios, lágrimas...
- Não delires, diz-me uma coisa... gostavas de a ter no pleno sentido, tu sabes...
- Adorava, seria como a dádiva de um deus em que não acredito, mas generoso. Como um privilégio. Gostava de amar essa mulher, mas não no sentido em que o costumo idealizar. De uma forma completamente nova mas intensa. Amá-la intensamente. Parte de mim foi com ela.
- Levou os teus poemas, não foi?
- Ah! Ah! Armado em esperto!? Tu entendes e nós entendemo-nos.

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