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quinta-feira, fevereiro 12, 2004

“Ainda tenho bastante que aprender, senhor, e disse à minha alma: voa até aos meus ouvidos e escuta, voa até aos meus olhos e não percas nada do que vires”.

Bernard-marie Koltés, Combate de Negro e de Cães

“Ao criarem necessidades os media também criam o mecanismo de manipulação cognitiva que faz com que exista uma definição de fronteiras invisíveis em que o espaço dos grupos dominantes está sempre bem salvaguardado do ataque dos dominados-a isto se chama violência simbólica”.
Ricardo Mendonça Marques, Os Media e a Sociedade de Exclusão


O DIÁLOGO QUE SE SEGUE É DA i RESPONSABILIDADE DOS AMANTES DE PESSOAS QUE NA REALIDADE NÃO SE GOSTAM MAS LÁ SE VÃO ATURANDO, e foi gravado em segredo quando o outro estava era por aí a fumar charros com a cambada de desocupados a que vulgarmente se chama de amigos

- A Nicole Kidman sempre foi o meu modelo de actriz...
- Sim, tem umas belas de umas pernas...
- O quê!? Alugo um filme engraçado para vermos e o único comentário que tens é sobre as pernas da actriz?
- Estou demasiado saturado para ligar a estas histórias, tira um bocado, quero ver se o Benfica ganhou...
- Está bem está, olha a tua sorte... Pareces um daqueles labregos que só ligam a futebol e a cerveja, que incham como porcos a ver uma dúzia de camelos a correrem num campo verde... quando eu te conheci tu não parecias assim...
- Quando tu me conheceste eu estava bêbedo.
- Ai isso é assim? Vai mas é à merda, ao menos o H sabe o que quer, estuda, trabalha, e ainda é ele que faz quase tudo lá no teatro...
- Pois, por isso é que ele é o teu namorado e eu não.
- Não passas é de um grande frustrado, isso sim!
- O quê?! Olha mas é para ti! O que é que tu sabes de mim, o que é que tu sabes da minha vida? Andamo-nos a encontrar assim, sabe-se lá porquê, há umas cinco semanas, pões os cornos ao gajo, metes-me na gaveta... o que é que tu sabes? O que é que eu sou para ti? O que é que nós somos um ao outro?
- Cala-te com as tuas teorias de intelectual, só tens é garganta...
- Garganta tens tu... francamente, vocês são todas iguais, vens lá da parvónia para estudar aqui e também dizes que queres ser actriz, pois quando te fui ver lá na peça, nem era para te dizer mas... não trabalhes não, minha filha, não trabalhes não. Ah ! Ah! Ah!
AS CENAS QUE SE SEGUEM FORAM CENSURADAS DEVIDO AO DIA DOS NAMORADOS, e as lojas precisarem de vender muitos corações-zinhos e flores-zinhas e muitos biscoitinhos para todos os Bóbis e todas as Tarecas desta terra sem recessão.
- Foda-se!!! Essa merda custou $!! Mas que raio...
- Mas quem és tu ó palhaço! Quando te conheci, maldito dia, não eras nada assim. Poemas, queres ser escritor, tudo uma treta, vejo-te todos os dias no café e não fazes mais nada, a porcaria de um livro à frente, armado em pseudo-intelectual...
- É, passas por mim todos os dias mas nem me dizes nada, mandas-me um olá qualquer, nem sequer te sentas comigo.
- Tu e as tuas tretas, vocês são todos a mesma merda.
- Ouve, esta discussão não leva a lado nenhum e eu quero-me ir embora. Queres que te dê boleia?
- Antes disto, quando estávamos na cama, eu fiz-te uma pergunta.
- O quê? Não me lembro...
- Pois não! Perguntei se tu me amavas e tu não deste resposta, não disseste nada.
- O quê!? Ah! Ah! Pode ser que te ame, acho que é provável... mas não deves estar à espera que eu entre em grandes discussões teóricas quando estou a mandar uma...
- !!!! Repete lá essa!!!

“Todos os ciclos que iniciamos acabam sempre por originar a encenação do seu próprio fim”.
Ricardo Mendonça Marques, Os Media e a Sociedade da Exclusão


O DIÁLOGO QUE NOS SEGUE E PERSEGUE É DA i RESPONSABILIDADE DOS PARANÓICOS, e foi gravado em segredo quando tu confiavas em mim embora eu não fosse da tua raça, do teu grupo social, e fosse inimigo dos teus amigos além de não ser amigo teu

- Fala-me de sexta.
- Que posso eu falar. Deixei-a no hospital, teve de ficar para uma transfusão. Aproveitei para ir marcar uma nova consulta na minha médica.
- E então?
- Lá fui eu. Estavam duas miúdas freaks a terem consulta, reconheci-lhes uma certa cumplicidade nos rostos, depois zarpei até ao Tropical.
- Onde te sentaste na mesa do puto...
- Exacto. Realmente gosto de falar com ele e ele gosta de falar comigo. Preferiu estar a ouvir as minhas velhas histórias do punk e do States a ir ter com o grupo de amigos dele. O chato foi que me esqueci de telefonar para o hospital e depois tive de sair a correr, ia sendo atropelado numa passadeira.
- E à noite? Saíste com o R?
- Sim, o R até tenho voltado a curtir. Eu próprio tenho-me tentado divertir. Estivemos na Praça, falei com o Amarelo, fomos ao Moelas e inevitavelmente ao Buraco Negro.
- E então? Estava porreiro?
- Tentei dar outro rumo às coisas. Isto é, tentei dançar e dancei, tentei respirar as coisas de outra maneira. Assumir a pessoa que sou e não cair, não obstante a quantidade de cães esfomeados, não obstante outro tipo de cenas como as do cabrão do TG.
- E mais? Que mais de relevante aconteceu?
- Sábado mais ou menos, estive a falar com o violinista no Foyer. É estranho como as pessoas se sentem tentadas a fazer confidências comigo. Surgiu a AB, na sequência houve aquele atrofio esquisito com ela no cinema. Penso seriamente que é maníaco-depressiva. A certa altura saiu a correr e a chorar...
- E tu? Foste atrás dela?
- Sim, estava ela a chorar lá fora. Abracei-a, não sei, mesmo assim senti algo bizarro quando o fiz, a conversa dela era completamente non sense. Tudo envolto em algo mau, a tolerância dos outros para com ela é cada vez menor. Depois o G preparou-se para partir para a Alemanha.
- E vieram as imagens da noite. Como temos pouco tempo vamos ao que interessa. A linda miúda V estava no Foyer?
- Ya, tens de ir lá mais vezes... saí com o R e estivemos a falar sobre o Lautréamont no Piano Negro, fomos ao Buraco Negro, surgiu o P, uma pálida imagem daquilo que foi, de resto, conversa com os óbvios. O olhar fixo da namorada do VR, usei o meu olhar de uma forma tão intensa contra ela, não sei... Não sei que tipo de jogos procuro eu. Adiante.
- E Ela? Tu sabes... ELA.
- Eu falava animadamente com Ela. Disse que está a ter um caso com alguém.
- E tu? Isso abalou-te?
- Um bocado. É mais que óbvio e assim será inevitavelmente. Desencadeou um processo que será sempre igual. No fundo começou a promiscuir-se. A minha atitude foi sóbria e normal. Já não teria o porquê de não o ser. Falei-lhe que estava a sair com uma pessoa, mas que as coisas não estavam a correr lá muito bem.
- Ela disse que sabia quem era? Descreveu a J?
- O que foi estranho. A explicação dela não me pareceu convincente. Sinto que a minha vida é controlada.
- Como os olhos que embalam os olhos que embalam a noite?
- Nem mais.

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